segunda-feira, 7 de junho de 2010

"MISTER" MICHEL

Nome: Carlos Miguel da Silva Mira (Michel)
Data de nascimento: 02/10/1973
Profissão: Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico
Anos como treinador: desde da época 1996/1997
Clubes onde treinou: Mortágua F.C. (Escolas, Iniciados, Juniores e Seniores); Casa do Benfica em Mortágua (futsal seniores); S.C. Vale de Açores (seniores) e Pinguinzinho (escolas).

Pinguinzinho na Bola - Já jogou futebol ou praticou alguma outra modalidade desportiva?
Michel - A primeira modalidade que pratiquei foi hóquei em patins entre os 6 e os 8 anos, mas depois fartei-me porque o que realmente queria era jogar futebol. Esse meu desejo veio-se a concretizar quando ainda tinha 8 anos tendo jogado até aos 33 anos.

Pinguinzinho na Bola - Como surgiu este projecto de ser treinador de futebol de formação?
Michel - A ideia de ser treinador de futebol de formação surgiu quando eu andava no terceiro ano do ensino superior, isto porque eu sabia que no ano seguinte teria de orientar uma equipa que serviria de suporte a uma disciplina do curso. Falei com a direcção do Mortágua F.C. para ver se havia possibilidade de poder treinar uma equipa de formação, aceitaram a minha proposta e entregaram-me então a equipa de iniciados. Foi a partir daí que comecei a trabalhar com a formação.

PnaB: Integra a Assoc.Desp. O Pinguinzinho. Sabemos que esta Escola de Futebol tem várias camadas etárias, vários escalões. Isso é importante num clube? Porquê?
Michel - Eu acho que a estratégia adoptada pela Associação Desportiva O Pinguinzinho é a mais adequada para a formação. Repare, neste momento o clube tem um grupo de jogadores nascidos em 2004, outro grupo de jogadores nascidos em 2003, outro grupo de jogadores nascidos em 2002, outro grupo de jogadores nascidos em 2001, equipas estas que não têm quadros competitivos mas que participam sistematicamente em torneios ou concentrações para consolidação dos processos trabalhados no treino e para lhes dar também noção do que é a competição. Quando chegam a equipa dos escolas, que é o escalão étario onde começam com a competição a sério, alguns jogadores já possuem 4 anos de trabalho o que para nós treinadores facilita o nosso trabalho mas que ao mesmo tempo o torna mais exigente. Quando estes jogadores chegarem ao escalão de juvenis, pois o Pinguinzinho só tem equipas até aos iniciados, então já levam consigo toda a bagagem necessária, tanto a nível técnico, táctico como ao nível da sua formação como homem, para poder irem o mais longe possível na sua carreira futebolística.
Para concluir, o que posso dizer é que, como em tudo na vida, o trabalho de base é fundamental para o resto do percurso que se apresenta pela frente de qualquer um destes jogadores e portanto é muito importante criar condições para esse trabalho acontecer e dar frutos e isso tem acontecido no Pinguinzinho.

PnaB: A direcção do clube, tanto quanto se sabe, dá apoio às equipas mas, por vezes, isso só não chega.
Considera que o apoio das entidades locais é importante para o clube e para os jovens que dele fazem parte?
Michel - Eu acho que é importantíssimo que haja esses apoios por parte das entidades locais, aliás neste momento seria complicado gerir um clube como O Pinguinzinho sem estes mesmos apoios. Se não existissem estes apoios não haveria condições para se desenvolver todo o trabalho que está a ser feito, e não havendo condições com certeza que os jogadores não seriam tantos a frequentar o clube e ao mesmo não se sentiriam tão bem neste último. Portanto, acho que é como que “ uma obrigação moral ” apoiar uma Associação como O Pinguinzinho, pois esta, ajuda a fomentar a prática desportiva de várias modalidades no concelho assim como a formar o Homem de amanhã.

PnaB: Tem treinado a equipa de escolas. Já treinou outros escalões?
Michel - Sim, já treinei outros escalões: iniciados, juniores e seniores.

PnaB: Qual o escalão que prefere treinar, se é que tem preferência?
Michel - Em todos eles foram experiências bastante enriquecedoras. São várias as formas de lidar com os jogadores, devido ao escalão étario em que eles se encontram, mas sem dúvida que quanto mais baixo é o escalão mais prazer dá trabalhar, isto porque a evolução do jogador é mais notória, sente-se o prazer, a alegria das crianças por jogarem futebol. Estes aspectos com o avançar da idade vão-se perdendo ou pelo menos tornam-se menos visíveis e a nossa forma de estar já tem de ser diferente.

PnaB: Como é iniciar o percurso desportivo de jovens atletas?
Michel -  Não é uma tarefa muito fácil, mas é muito gratificante. No Pinguinzinho, como referi anteriormente, o nosso trabalho é facilitado, pois maior parte dos jogadores que chegam ás nossas mãos já vem com uma bagagem que nos fazem partir de um patamar mais elevado. Quando nos chegam jogadores que nunca jogaram à bola em que é preciso começar do zero e que de semana a semana os vimos a evoluir, aí sim sinto uma enorme satisfação, porque o trabalho realizado está a dar os seus frutos.

PnaB: Sente que os miúdos ganham responsabilidade ao participarem e integrarem clubes/associações?
Michel - Sim, sem dúvida. Eu próprio incuto isso aos meus jogadores. Faço-lhes ver que ao representar o clube, já tem responsabilidades, que começam pela sua assiduidade aos treinos, o saber estar nos treinos, nos jogos ou noutro local qualquer, respeitar os colegas, treinadores, adversários, os árbitros ou mesmo o saber cuidar dos equipamentos e materiais de treino. Tudo isto é importante, porque ajuda-os a crescer, a saber estar e trabalhar em grupo.

PnaB: Treina uma equipa de crianças. Quais são as maiores dificuldades que isso representa?
Michel - Felizmente tenho tido muita sorte com as equipas de crianças que tenho treinado e por isso as dificuldades não têm sido muitas. Nós temos de saber ouvi-las, brincar com elas quando devemos brincar, mas também exigir quando sabemos que o podemos e devemos fazer.

PnaB: Quais são as alterações que esta função traz ao seu quotidiano?
Michel - As alterações não são muitas, pois já há alguns anos que a minha semana é preenchida por treinos e jogos. O único senão é que passo um pouco menos de tempo com a minha família e por isso tento recompensá-la sempre que posso.

PnaB: O escalão que treina, (Escolas), ficou em segundo lugar no Campeonato Distrital.
Muitos Parabéns!

Como encarou a posição da sua equipa no início da época?
Michel -  Muito obrigado!
Muito sinceramente, quando iniciei a época, nunca pensei que esta equipa iria fazer o campeonato que fez. E esta minha opinião era partilhada por muita gente ligada ao Pinguinzinho. O que é certo é que a equipa foi trabalhando de forma muito séria, criou-se um espírito de grupo muito forte e sobretudo sempre soube respeitar os adversários, desde o mais fraco ao mais forte. As vitórias foram aparecendo, as exibições começaram a ser mais consistentes e começamos a acreditar que seria possível chegar longe. Acabamos por fazer um campeonato sem conhecer o sabor da derrota, mas mesmo assim não chegou para sermos campeões. Foi de facto uma campanha espectacular!!!

PnaB: No ano passado ficou exactamente com a mesma classificação. Não lhe parece que isso é a confirmação da boa qualidade de futebol que ensina aos atletas?
Michel - Não, acho que não. Acima de tudo penso que o mérito da posição alcançada, tanto o ano passado como este ano, é inteiramente dos jogadores. Além das suas qualidades técnicas, foram inexcedíveis na entrega ao trabalho, na humildade que tiveram ao longo dos respectivos campeonatos, foram responsáveis e com grande espírito de grupo. Souberam ouvir e interpretar aquilo que lhes era pedido e portanto os resultados só poderiam ser bons. Como referi anteriormente, estas posições alcançadas pelas equipas dos escolas nestes últimos campeonatos são o fruto do excelente trabalho realizado pelos técnicos, quando estes jogadores eram escolinhas e por conseguinte, da minha parte, em colaboração com os meus colegas que fazem parte da equipa técnica, foi só dar seguimento a esse trabalho.

PnaB: Quando olha para os miúdos com quem tem trabalhado, o que é que sente?
Michel - Muito orgulho!! São miúdos excepcionais, brincalhões na hora de brincar, sérios na hora de trabalhar!!! São fantásticos.

PnaB: E aqueles que mudam de escalão e que por conseguinte deixa de treinar, deixam saudades?
Michel - É claro, deixam sempre saudades. A ligação já não é tão forte e tão próxima, mas procuro sempre que nos encontramos conversar e brincar um pouco com eles.

PnaB: Tem consciência que os seus jogadores, mais do que “O Mister “, o vêm como um modelo e que sentem uma grande afeição e respeito por si. Isso é importante?
Michel - Nestas idades é natural que isso aconteça, porque nós treinadores procuramos transmitir, além dos conteúdos técnico/tácticos inerentes a esta modalidade, as nossas experiências, as nossas vivências que foram surgindo ao longo destes anos ligados ao futebol, portanto é normal que possamos ser para os nossos jogadores uma espécie de modelo. Relativamente ao respeito, julgo que é um valor sagrado no futebol, porque sem ele uma equipa nunca poderia funcionar. O respeito tem de ser mútuo, ou seja, temos de saber respeitar tudo e todos, desde colegas, treinadores, dirigentes, adversários, árbitros, as próprias instituições, etc… Esse respeito procuro que esteja sempre presente nas equipas que eu treino, porque só assim é que se constrói um grande e sobretudo forte espírito de grupo fundamental para que o trabalho realizado surta os efeitos desejados.

PnaB: Que conselho deixa a todos eles?
Michel -  Os conselhos que eu lhes posso deixar é que eles sejam humildes, que saibam ouvir e aceitar opiniões dos treinadores porque será sempre com intuito de eles poderem melhorar a sua performance, que nunca deixem de trabalhar e que nunca baixem os braços quando as coisas correrem menos bem.

PnaB: O Michel tem sentido a presença e acompanhamento dos pais e familiares dos atletas nos treinos e nos jogos.
Em que medida é que isso é importante para si e para a equipa?
Michel - Se me permite, queria aqui deixar uma palavra de apreço e agradecer o apoio dos pais e familiares dos jogadores que nos acompanharam ao longo do campeonato desde do primeiro ao último jogo, assim como nos jogos de carácter amigável. Foi de facto uma presença muito importante, sobretudo para os jogadores porque era mais uma fonte de motivação para eles, sentiam algum conforto quando jogavam fora de casa, porque sabiam que não estavam sozinhos. Ao longo desta segunda fase do campeonato, em que os jogos tiveram um maior grau de dificuldade, a presença dos pais tornou-se ainda mais importante, pois puxaram pela equipa em várias ocasiões quando esta dava sinais de estar a cair e além disso no final dos jogos é sempre bom ter a presença do pai ou da mãe para poder ser reconfortado sobretudo quando as coisas não correm bem!!! No fundo eu penso que a presença dos pais é quase que obrigatória, pois é a nossa função acompanhar os nossos filhos e quando vejo situações como aquela que aconteceu quando a equipa de escolas do Crasto veio jogar a Santa Comba Dão, em que os miúdos vinham acompanhados só pelo seu treinador e pelo motorista da carrinha que os transportou, eu pergunto: Como é que isto é possível? Onde estão os pais destas crianças?

PnaB: Terminado o Campeonato e alcançada uma óptima posição, qual é o balanço final que faz desta época?
Michel - Por tudo o que já foi dito até aqui, julgo que o balanço final só pode ser positivo. Os jogadores trabalharam muito bem, a equipa foi melhorando ao longo da época e acabamos por conseguir um excelente segundo lugar no campeonato, ganharam também alguns torneios que se realizaram pelo meio, mas acima de tudo, e o mais importante para mim, foi ter contribuído para mais uma etapa na formação destes jogadores. Portanto acho que foi muito bom!!

PnaB: O que é que espera da próxima época? Já tem projectos?
Michel -  Relativamente à próxima época, ainda não sei como é que vai ser. Mas o que lhe posso garantir é que irei continuar a dar o meu máximo em prol deste clube e em prol dos jogadores com quem irei trabalhar, para que este projecto de formação continue a ter o sucesso que tem conhecido até aqui.
Queria aproveitar para enviar um grande abraço aos meus colegas da equipa técnica, Paulo e Hélder, pois sem eles não teria sido possível realizar o trabalho que foi idealizado para esta época. Obrigado!

O Pinguinzinho na Bola agradece a entrevista e deseja ao Mister Michel muitos sucessos e a concretização de todos os seus sonhos e objectivos quer profissionais, quer pessoais.